SENSIBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE ESCOLAR PARA A UTILIZAÇÃO DA LIBRAS
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Esse texto, escrito por Liisa Kauppinen (Ex-Presidente da Federação Mundial dos Surdos/World Federation of the Deaf e ex-diretora-executiva da Associação Finlandesa dos Surdos) e publicado na Revista WFD NEWS (vol.12  n° 2, julho de 1999), da FEDERAÇÃO MUNDIAL DOS SURDOS, que tem sede em Roma, apresenta um ponto de vista muito particular: os surdos são um “povo”. Vale a pena ler e refletir.

 A perspectiva da Federação Mundial dos Surdos (World Federation of the Deaf) sobre as pessoas surdas está definida nos estatutos da WFD:  “O termo ‘Surdo’  refere-se a qualquer pessoa com perda auditiva, especialmente aquela que faz uso da língua de sinais como sua língua natural.” (Artigo 2, Seção 2); e “Língua de Sinais tem sido universalmente aceita com o status de uma língua indígena e a cultura Surda como participante da herança cultural nacional de cada país.”( Artigo 2, Seção 1) (…)

 Durante as últimas décadas, pesquisas em sociologia, antropologia cultural, linguística, e outras disciplinas similares têm sido incrementadas e mais informação sobre os Surdos enquanto grupo e individualmente têm sido divulgadas. Enquanto a linha de pesquisa clínica-patológica perguntava: “O que há de errado com a pessoa Surda? O que está faltando, como essas desordens podem ser reparadas?”, ao mesmo tempo a sociologia e a antropologia cultural estudavam o modo de vida do Surdo, sua cultura, valores, estratégias, perguntando: “Como a pessoa Surda vive e funciona na sociedade? Como podem os recursos próprios do Surdo serem utilizados?”

 Em todos os lugares do mundo  os Surdos se reconhecem e se vêem enquanto grupo sócio-cultural; têm sua língua própria, sua história, valores, costumes, crenças e organizações para interagirem  com os outros, ou seja, aqueles que não são Surdos.

 Estas diferenças de perspectiva têm gerado muitos debates públicos; “O que é isso, vocês são Surdos, e não deficientes? E os deficientes auditivos – são eles os únicos deficientes? Vocês estão simplesmente negando sua deficiência, e isso é um problema psicológico…”  e por aí vai. Estas atitudes são comuns. Na realidade, muitos Surdos não se consideram deficientes. Essa atitude é baseada em suas próprias experiências de vida como pessoa Surda, que é natural.  Comparem os exemplos do livro Deaf in America: Voices from a Culture, de Carol Padden e Tom Humphries, de 1984 (reeditado pela Harvard University Press, 1990), que descrevem as experiências de crianças Surdas onde os ouvintes é que são os “deficientes” e não os Surdos. Por outro lado, alguns Surdos e organizações rejeitam essa visão sóciocultural em função de razões políticas e econômicas: se os Surdos não são vistos como incapacitados, perderão todas as oportunidades, benefícios e direitos associados com a deficiência. A Federação Mundial dos Surdos pode ajudar na dicussão desse tópico.

 De acordo com os pesquisadores, os Surdos preenchem todos os critérios para serem classificados como grupo minoritário, incluindo o aspecto da hereditariedade. Cadeirantes não dão a luz a bebês cadeirantes; nem a cegueira, nem a deficiência mental são passadas de pais para filhos; mas, grande parte da surdez é hereditária. Pesquisadores têm tentado localizar e erradicar os gens responáveis pela surdez, mas,  até agora, eles já foram detectados em centenas de gens e destruí-los significa mudar a natureza do ser humano dramaticamente. Portanto, a surdez pode ser encarada como uma parte natural da pessoa, parte da sua diversidade enquanto ser humano.

 A maior parte dos Surdos sente-se ligada às outras minorias linguísticas. Os usuários de línguas minoritárias  são normalmente oprimidos nas escolas, no recebimento de informações e serviços; os problemas daqueles que fazem uso de uma língua minoritária são similares aos problemas dos Surdos que fazem uso da língua de sinais.

 Pesquisas também mostram que a proibição do uso da língua de sinais tem consequências fatais no desenvolvimento linguístico e no desenvolvimento em geral da pessoa Surda;  por criar obstáculos constantes na comunicação.  Próteses auditivas e a oralização não são suficientes para remover os obstáculos de comunicação para a participação da pessoa Surda sociedade  e não garantem oportunidades iguais.

 A ONU define deficiência em sua relação com o meio-ambiente: deficiência é causada por obstáculos no meio-ambiente e pode ser diminuída ou eliminada ao se criarem recursos para superá-las. Se a língua de sinais é proibida, ou se a interação social, educação, informação e serviços não são disponíveis em língua de sinais, a pessoa Surda não desenvolve seu potencial linguístico e não pode se comunicar . Se os direitos lingüísticos da pessoa Surda são implementados e se ela tem seu desenvolvimento linguístico normal, se o uso da  língua de sinais é permitido em todos os níveis, se não existem obstáculos à comunicação e participação – então a pessoa Surda é igual. Quando a língua de sinais é usada e o meio-ambiente é prazeiroso para a pessoa Surda, a deficiência diminui ou desaparece. Então, a pessoa Surda não precisa ser chamada de deficiente. 

Os Surdos têm interesses comuns com  minorias linguísticas  e  com movimentos de deficientes que lutam por seus direitos. Juntamente com as minorias linguísticas, lutamos pelos direitos humanos, especialmente aqueles ligados à língua. Para as pessoas portadoras de deficiências, os direitos humanos e a melhoria do meio ambiente também são importantes.

 Portanto: A pessoa Surda é deficiente quando a ela é negada língua e cultura. A pessoa Surda não é deficiente se seus direitos linguísticos e culturais são respeitados.

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